Te contei que estou tentando mudar? Pois é, estou. Sem pensamentos ruins, sem cigarros, sem vinho, sem novos amores, sem sentir tua falta.
Eu fujo e ainda assim me esbarro com algo de ti a todo o momento. Te vi com ela. Na porta da tua casa. Você fechando o portão sorrindo, enquanto ela olhava pra rua. Assim como eu fazia com você. Você gosta dela não é mesmo? Eu sei.
No dia que decidi me libertar, te vi também, e sabe o que eu fiz? Me escondi. Eu sei, eu sei. Que criancice. Você diria: “Tem que agir como adulta, Ivie.” Não consegui. Tive medo. Você iria me renegar novamente, como você fez todos aqueles anos. Lembra?
E sabe o mais engraçado? A sua garota veio parar justamente na cidade que eu resolvi me esconder. Você não gostou de ser abandonada, eu sei, é mais cômodo abandonar. Só que era você ou meu sonho, entende? E hoje, eu vejo que se eu não abandonasse você iria me abandonar. Assim como você fez.
Enquanto você está ai matando o resto de fígado que você tem por ela, eu troquei de casa, de vida, de perspectiva. Vivo nessa cidade de verão e inferno esperando não esbarrar com nada que me lembre você, nem aromas, nem conversas, nem lembranças, nem a garota, e tenho conseguido, quase não lembro mais. Vivo esperando por fim de tardes como esse do dia 25, de céu ameaçando chorar, para ter recaídas. Ai coloco o Zeca Baleiro que você me recomendou, e fico lembrando do teu cheiro, da tua Heineken, do nosso sushi da depressão e depois, do divórcio.
Eu amo você mas não sei o que isso quer dizer. Eu não sei por que eu teimo em dizer que amo você.
Nossa, tão forte tão real. Uma dose de alma esmagada. Parabéns.
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